terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O padrão Steve Jobs é predador

CONSUMISMO IDIOTA!

Por que milhões de pessoas estão descar­tando aparelhos novos, diminuindo o tem­po de vida dos produtos e adquirindo mo­de­los novos com pequenas melhorias?

      Vou nadar contra a correnteza. Afirmo que o modelo de consumo imposto por Steve Jobs é predador e prejudicial ao futuro da humanidade. A morte de Steve elevou-o à condição de mito e chegaram a compará-lo a Leonardo da Vinci. Ele era um gênio da engenharia, disso não discordo. Mas penso que sua obsessão quase louca por lançar um produto e, alguns meses depois, relançá-lo com melhorias marginais, e seu êxito em conseguir convencer multidões a substituí-lo compulsivamente em período curto contribuíram para a exploração irracional e destrutiva dos recursos ambientais.
      Debati esse assunto em uma mesa-redonda na qual o palestrante louvava Steve Jobs como um ser quase extraterrestre, um deus que estaria propiciando aos humanos um patamar superior de vida na Terra. Jobs ofereceu coisas novas e boas, sem dúvida; mas também contribuiu para o consumismo predador.
     Antes, é preciso esclarecer um ponto: há inovações que são caracterizadas como “saltos tecnológicos”, enquanto outras, não. A evolução da abreugrafia (o raio X) para a ressonância magnética; da máquina de escrever para o computador; do telefone fixo para o celular; da carta para o e-mail, a invenção da internet... todos esses são exemplos de saltos tecnológicos geniais e extremamente úteis à humanidade. Mas sair de um iPad 1 para um iPad 2 não é salto tecnológico algum, são apenas melhorias marginais na mesma tecnologia e no mesmo produto.
     Fiz, ao palestrante, a seguinte pergunta: “Diga-me em que a humanidade se torna superior por adquirir um iPhone e, antes de dominar e usar 20% de seus recursos técnicos, substituir pelo modelo 2, comprar o modelo 3 em mais seis meses... o modelo 4... o modelo 5...?”. Na realidade, afirmei, nada há de superior nisso, e o descarte de produtos praticamente novos está causando destruição de recursos naturais, aumentando o lixo mundial e colocando a humanidade em um beco capaz de comprometer a vida de nossos filhos e das gerações seguintes.
     Há pessoas que compraram o iPad 1, exploraram uns 5% de sua capacidade, jamais leram um único livro em seu leitor eletrônico e, eufóricos, compraram o iPad 2 apenas meio ano depois. E irão comprar o iPad 3, o iPad 4 e quanto mais houver. E precisam disso? Não. Não precisam e não usam 80% do equipamento. Por que milhões de pessoas estão descartando aparelhos praticamente novos, diminuindo o tempo médio de vida dos produtos, e adquirindo modelos novos do mesmo, praticamente iguais, com pequenas melhorias marginais? É apenas fruto de desejo, ansiedade, consumismo e exibicionismo, vícios que são antigos. Na obra Satiricon, escrita por Petrônio na época do Império Romano, o milionário diz: “Só me interessam os bens que despertam no povo a inveja de mim por possuí-los”. Karl Marx voltaria ao assunto, para dizer que “o fetiche da mercadoria vai transformar todas as relações sociais em mercadoria”.
     A indústria programa desgastes artificiais dos produtos e provoca sua obsolescência em períodos curtos, como forma de obrigar os mesmos consumidores a uma reposição mais rápida. Ao constatar que a troca de uma peça simples de seu aspirador de pó custava quase o mesmo preço de um aspirador novo, a professora italiana Giovanna Micconi, doutorando em Harvard, afirmou que “algo de muito errado está acontecendo com nossa sociedade”.
    O caso do aspirador de pó é uma situação que deixa o consumidor meio sem alternativa. Porém, as versões novas de telefones, televisores, carros, computadores, tablets e até de roupas nos levam a entrar na onda de trocar o tempo todo apenas pela angústia de comprar. E há um sério agravante: grande parte dos consumidores está comprando tudo isso não com renda, mas com dívidas.
    O economista Eduardo Gianetti deu entrevista indignado com a incapacidade da economia de mercado (da qual ele e eu somos fãs) em levar em conta o custo ambiental de nossas escolhas de produção e consumo. Ele fala da “corrida armamentista do consumo”, que, com mais bilhões de chineses e indianos ingressando no mercado consumidor, vai explodir os recursos do planeta. A Terra não vai aguentar.
    O abacaxi está posto para a humanidade e esse padrão de consumo, do qual Steve Jobs é um símbolo, não é sustentável. A genialidade e as inovações são úteis; o consumismo que elas estão moldando é trágico.

José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Senado cede direitos de livros de Carpeaux

Editora Leya recebeu gratuitamente projeto gráfico que foi pago com dinheiro público

     Responsável pelas publicações do Senado, o conselho editorial da Casa cedeu o projeto gráfico dos quatro volumes da série "História da Literatura Ocidental", de Otto Maria Carpeaux (1900-78), para a editora portuguesa Leya. A informação foi revelada pela revista "Época" desta semana.
     A obra de Carpeaux, crítico austríaco radicado no Brasil, está em domínio público (não há, portanto, necessidade de pagar direitos autorais), mas o projeto gráfico feito por Achilles Milan Neto para a edição do Senado, não.
     "É possível que eu peça ressarcimento ou participação no projeto. Isso foi feito sem que eu soubesse ou me fosse avisado", disse Neto.
     A cessão do projeto, que custou cerca de R$ 24 mil em valores atuais, foi feita verbalmente pelo vice-presidente do Conselho Editorial do Senado, Joaquim Campelo.
     "Não houve favorecimento. (O material) Está aberto para quem quiser editar", disse Campelo.
     Além da economia gerada, a Leya conseguiu, com o lançamento em dezembro passado, se antecipar à edição que a Topbooks prepara.
     "É uma espécie de concorrência desleal. Já gastei R$ 70 mil. Se a Leya tivesse feito a edição do livro, seria (parte) do jogo. O problema é se valer de um trabalho produzido pela gráfica do Senado com dinheiro público", disse José Mário Pereira, da Topbooks.
     Para o editor Pedro Paulo de Sena Madureira, o Senado não poderia ceder um projeto de propriedade pública a uma empresa privada.
     "O texto pode ser editado, já que está em domínio público. O que não pode é usar o projeto gráfico que foi elaborado com dinheiro público."
     Pascoal Soto, diretor da Leya no Brasil, diz que não houve qualquer irregularidade na cessão do projeto. 
     "Pedi autorização ao Senado, a recebi e publiquei a obra. Fiz tudo corretamente."
     A Leya lançou uma coletânea de textos do presidente do Senado, José Sarney, publicados originalmente na Folha e uma biografia dele.
     Soto afirma que não há relação entre as publicações e a cessão feita pelo Senado.
     "Isso é uma bobagem. A biografia foi publicada antes de surgir o projeto de publicar o Carpeaux", afirmou.
FONTE: Folha de S. Paulo

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Livro da Semana "Resultados Extraordinários"

      Este é um livro que apresenta técnicas e estratégias simples para tornar seus sonhos realidade.

      Por que você acha que existem pessoas que, mesmo com um passado difícil, conseguem montar uma empresa milionária, ser grandes líderes ou alcançar objetivos que para outros pareceriam impossível?             
      Um dos segredos é que cada uma delas, desde o começo, soube aonde queria chegar e, portanto, viveu sua vida de acordo com certos princípios que a levaram ao sucesso.
      Não se trata de trabalhar horas extras, economizar durante toda a vida ou estar "acomodado" em um posto hierárquico relevante: o que faz com que uma pessoa possa cumprir seus sonhos é o estabelecimento de metas claras e alcançáveis. 



Livro: Resultados Extraordinários
Autor: Bernardo Stamateas
Editora: V&R
Páginas: 214 páginas
Valor: R$ 19,90 

Pedidos: (41) 3264-3484 ou chain@onda.com.br

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Roubar pode, já trabalhar...

      Conheço uma moça muito inteligente e simpática, que sonha em trabalhar com hotelaria. Mostrando sua sensatez e entusiasmo, ela resolveu se apresentar em um hotel, munida de currículo, procurando um trabalho que a fizesse conhecer a área antes de começar uma faculdade. Afinal, sabemos todos que a teoria, na prática, é outra.
      O dono do hotel, encantado com a disposição da moça, escreveu no currículo uma ordem para que ela fosse contratada e encaminhou-a ao setor de pessoal. O chefe do departamento de pessoal, contudo, impediu a contratação. Não para desautorizar o chefe, mas simplesmente porque faltam três meses para que ela complete 16 anos. A moça ainda está proibida de trabalhar honestamente.
      Se, ao invés de procurar uma entrada na área a que deseja se dedicar profissionalmente, a moça houvesse resolvido vender drogas, não seria presa. Se roubasse, tampouco. Na tevê e na escola, a propaganda lhe diz que “use camisinha” (ou seja, seja sexualmente ativa) e tenta vender-lhe bugigangas.
      O jovem é tratado como incapaz de trabalhar e de tomar decisões conscientes, mas ao mesmo tempo é instado a “divertir-se” e a consumir freneticamente. Consumir sexo, consumir shows, consumir filmes, telefones e computadores. (grifo nosso)
      Ora, esta é a idade em que – de acordo com a natureza, mas não com a lei – o jovem entra no mundo. A porta de entrada que lhe é aberta pela sociedade, contudo, é apenas a da irresponsabilidade: o crime sem punição, o sexo supostamente sem consequências devido à camisinha, nada de trabalho, nada de responsabilidades.
      Uma moça de 15 anos de idade é perfeitamente capaz de trabalhar, de ser mãe de família (aproveitando o tempo de Natal que vivemos, lembro que era esta a idade de Nossa Senhora quando nasceu o menino Jesus), de participar, em suma, plenamente na sociedade. É tão capaz de fazê-lo quanto é capaz de roubar, de vender drogas, de viver em função do prazer e da “diversão”.
      Contudo, o que ela faz nesta idade será o parâmetro de suas expectativas para o resto da vida. Quem rouba sem punição aprende que roubar é bom. Quem não trabalha aprende que merece viver sem trabalhar. Quem se dedica ao prazer aprende que é ele o objetivo maior da existência.
      O trabalho infantil desumano e quase escravo que infelizmente ainda persiste não pode servir de desculpa para treinar os jovens a viver sem responsabilidades. Um erro não justifica o outro, e o que se faz hoje para com os jovens é o que prepara a sociedade de amanhã.

Fonte: Carlos Ramalhete, colunista da Gazeta do Povo

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Monteiro Lobato



O Livreiro

Entre os mais humildes comércios do mundo está o do livreiro. Embora sua mercadoria seja a base da Civilização, pois que é nela que se fixa a experiência humana, o livro não interessa ao nosso estômago nem a nossa vaidade. Não é portanto compulsoriamente adquirido. O pão diz ao homem: ou me compras ou morre de fome. O batom diz à mulher: ou me compras ou te acharão feia.
E ambos são ouvidos. Mas se o livro alega que sem ele a ignorância se perpetua, os ignorantes dão de ombros, porque é próprio da ignorância sentir-se feliz em si mesma, como o porco com a lama.
E, pois, o livreiro vende o artigo mais difícil de vender-se.
Qualquer outro lhe daria maiores lucros; ele o sabe e heroicamente permanece livreiro. E é graças a esta generosa abnegação que a árvore da cultura vai aos poucos aprofundando as suas raízes e dilatando a sua fronde. Suprima-se o livreiro e estará morto o livro – e com a morte do livro retrocederemos à Idade da Pedra, transfeitos em tapuias comedores de bichos de pau podre.
A civilização vê no Livreiro o abnegado zelador da lâmpada em que arde, perpétua, a trêmula chamazinha da cultura.

Monteiro Lobato

Fonte: Revista ANL